Severino Florêncio: um homem da arte e da virtude por Jaelcio Tenório

6 de outubro de 2017 0 Por blogem
Fotos: Vladimir Barreto Rodrigues
Reza a lenda que, nos anos 50, o
Vaticano teria construído uma máquina chamada “Cronovisor”. Através dela, seria
possível enxergar imagens do passado. Deixando as teorias de lado, eu gostaria
de dizer que hoje senti um grande desejo de possuir uma máquina assim. Eu
gostaria que existisse uma máquina que nos mostrasse o passado acontecendo. Se
fosse possível, eu iria colocá-la hoje nesta casa, exibindo suas imagens em um
telão. E a data que eu gostaria de mostrar seria 05 de outubro de 1957.
Exatamente 60 anos atrás.

Eu não queria ver os fatos históricos
que marcam esse período. Eu não queria ver a Rússia lançando seu primeiro
satélite artificial,  nem o clima de instabilidade política em Buenos
Aires. Não me interessaria sequer assistir aos bastidores da política, que
previa a mudança da Capital Federal para Brasília. Meu desejo seria visitar o
Sítio Serra de Aires, no município de Bezerros. Entre a simplicidade do lugar,
todos iríamos ver nascendo um bebê humilde, que desenvolveria um trabalho
grandioso. Eu gostaria de mostrar para vocês o primeiro sorriso e o primeiro
olhar, encantado com o mundo, deste que se tornou um dos maiores atores da
nossa terra: Severino Florêncio.

Dando um salto no tempo, é possível
lembrar daquele jovem destemido, que com 15 anos de idade veio morar em
Caruaru, onde estudou, trabalhou, se desenvolveu. Após uma experiência com o
teatro em um grupo jovem, foi convidado por Jô Albuquerque a fazer parte do
TEA, Teatro Experimental de Arte, que havia sido criado por Argemiro Paschoal e
Arary Marrocos, casal que dispensa comentários devido aos grandes feitos por
nossa cultura.
Algum tempo depois, já nos anos 80, foi
contratado pelo Sesc, onde já havia ministrado algumas oficinas de artes
cênicas. Em seguida, criou um grupo teatral, de modo que dirigiu 10 espetáculos
e descobriu diversos talentos, muitos deles brilhando nos palcos de Caruaru e
da região até os dias de hoje. Em 1987, fundou o grupo Arte Em Cena, por meio
do qual produziu peças grandiosas, a exemplo de “Doroteia Vai à Guerra”,
“Quinze Anos Depois”, “Avatar” e “Deus Danado”, só para citar algumas.
Versátil, o ator também fez algumas
incursões pelo mundo do cinema. “As Videntes de Cimbres”, “A Cidade de Quatro
Torres”, “A Ressurreição da Praça”, “O Cangaceiro”, “Ferrolho”, e “Nelson
Barbalho, o Imortal do País de Caruaru” são apenas algumas das participações de
Severino Florêncio no universo da sétima arte.

A verdade é que ele nos encanta. Nos
palcos, consegue nos fazer rir ou chorar. Seja encenando na Paixão de Cristo de
Nova Jerusalém ou no monólogo “A Visita”, ele faz com que as letras do roteiro
ganhem vida através de seus gestos, sua voz, seu talento. Fora do palco, no
espetáculo da vida cotidiana, Severino é um forte guerreiro, um batalhador
incansável pela cultura regional, mas também é uma pessoa sensível, um amigo do
bem e da virtude. 

Pois bem, senhoras e senhores, não
posso – conforme falei no início – apresentar nesta noite as cenas reais de
toda a história de Severino Florêncio. O que posso, porém, é aplaudir e
engrandecer a história deste homem ainda em vida. É dizer que este título de
cidadão de Caruaru é um símbolo do respeito, do reconhecimento e do
agradecimento por tudo o que ele faz, mas também por tudo o que ele é. Não
posso mostrar o primeiro sorriso daquele bebê que nasceu há seis décadas, mas
posso ver o sorriso emocionado no rosto deste homem cujo maior talento que tem
é emocionar. Desejo-lhe muita luz, muita paz, muita inspiração. E que Deus, o
Pai das Artes, permaneça guiando o seu caminho, dentro e fora dos palcos.