
Mortalidade por câncer de mama no Brasil aumenta 86,2% nas últimas décadas e preocupa especialistas
25 de abril de 2024Um novo estudo revelando um aumento de 86,2% na taxa de mortalidade por câncer de mama no Brasil aqueceu o debate sobre o tema entre médicos e pesquisadores da doença. O levantamento recém-divulgado pela Umane (SP), associação civil dedicada ao apoio às iniciativas de saúde pública, cruzou dados do Sistema de Informações da Mortalidade (SIM/SUS) e observou que a taxa subiu de 9,4 por 100 mil habitantes em 2000 para 17,5 em 2022. Ao mesmo tempo, a mortalidade pela doença reduziu na maioria dos países nas últimas décadas. “É um resultado desastroso para nossa população, fruto de múltiplos fatores, como as modificações negativas nos hábitos de vida, o diagnóstico da doença em um estágio avançado e a dificuldade de acesso ao tratamento”, diz Mirela Ávila, diretora médica do Centro Diagnóstico Lucilo Ávila, instituição de saúde com 50 anos de tradição em Pernambuco e uma das mais bem estruturadas do país.
Quando diagnosticado precocemente, o câncer de mama alcança taxas de cura superiores a 95%. “Então, onde estamos errando? Éfundamental que as mulheres em idades mais susceptíveis realizem o autoexame mensal e os exames de imagem de rastreamento periódicos, que permitem a detecção da doença no estágio inicial. A mamografia é o principal exame e deve ser realizada anualmente na mulher a partir dos 40 anos, de acordo com várias sociedades médicas”, afirma Mirela. Na contramão, o Ministério da Saúde prevê que a mamografia seja feita a cada dois anos e realizada apenas em mulheres dos 50 anos até os 69 anos. “Essa divergência é preocupante e pode ter colaborado para o país avançar na mortalidade. No Brasil,cerca de 40% dos diagnósticos de câncer de mama são feitos em mulheres abaixo dos 50 anos, sendo também elevada a taxa acima dos 69 anos”, pontua, indicando a falta de cobertura pelo SUS para rastreamento nesses grupos de mulheres.
Segundo a médica, há um recorte social do crescimento da mortalidade por câncer de mama: “Os números mostram que há um predomínio significativo de mortes na população de mulheres com baixa escolaridade, sem acesso a informações adequadas, aos exames periódicos e a hábitos de vida saudáveis, e que acabam por descobrir o câncer de mama em estágios avançados. É uma triste realidade com a qual precisamos lidar”.
O levantamento da Umane evidencia que o aumento da taxa de mortalidade por câncer de mama se deu em todas as faixas etárias acima de 35 anos, ainda que o crescimento não tenha sido linear. O grupo de mulheres com mais de 65 anos, contudo, é aquele que mais preocupa, por somar 179% dos registros – o que deve ter contribuído em grande parte para a elevação do crescimento geral da mortalidade. Entre mulheres com idade entre 55 e 64 anos, o percentual chegou a 140%. E, entre aquelas na faixa etária de 45 a 54 anos, 81%. Mulheres com idade entre 35 e 44 anos foram vítimas da doença em 72% dos casos.
Além do diagnóstico da doença em fase avançada, colaboram para o aumento das estatísticas de mortalidade, o estilo de vida da mulher, a alimentação, o consumo de álcool e a falta de exercícios. A obesidade, por exemplo, interfere diretamente nas células inflamatórias do corpo do indivíduo. O envelhecimento da população leva a um aumento geral na incidência de diversos tipos de câncer, incluindo o de mama.
No Centro de Diagnóstico Lucilo Ávila, o número de exames de rastreamento e diagnóstico das mamas vem crescendo a cada ano. Em 2023, foram realizadas 26.394 mamografias (para 24.998 em 2022); ultrassonografias de mama em mulheres de 35 anos em diante somam-se mais de 31 mil no ano passado (para cerca de 29 mil em 2022). Ressonâncias magnéticas foram 1.953 em 2023, ao passo que em 2022, foram 1.780 no total. “Aqui no Lucilo Ávila, temos intensificado os esforços para aumentar a acurácia do diagnóstico precoce do câncer de mama, além de priorizar o atendimento daquelas mulheres que já chegam com quadros mais avançados, estreitando laços com outros profissionais para aumentar a agilidade e eficiência no tratamento. Cada mulher importa para nós”, diz Mirela. “Precisamos juntar os esforços para que todas as mulheres tenham acesso a uma prevenção eficaz, e não apenas as nossas pacientes, com a disseminação de informação adequada, acesso a exames periódicos anuais e promoção do estilo de vida saudável.”
Foto: Dayvson Nunes/Divulgação
Radiologista Mirela Ávila, Diretora Médica do Lucilo Ávila