
Morre dona Maria José, aos 98 anos, torcedora símbolo do Sport
10 de setembro de 2023Morreu neste domingo (10.09), Dona Maria José, aos 98 anos de idade, torcedora símbolo do Sport que estava hospitalizada desde julho no Recife. O quadro clínico acabou piorando, quando começou a receber cuidados paliativos.
Uma nação inteira está de luto. Com enorme tristeza e pesar, o Sport Club do Recife recebeu a notícia do falecimento de Dona Maria, símbolo e ilustre torcedora do Leão. Ela nos deixou na manhã deste domingo (10), vítima de múltiplas falências dos órgãos. A icônica rubro-negra tinha 98 anos. A partir de agora, segue para sempre nos nossos corações.
Dona Maria foi um sinônimo de garra, luta e representatividade durante a sua trajetória de vida – adjetivos, por sua vez, que aplicam-se ao que é e o que caracteriza o Sport. E o entrelaço das histórias da torcedora e do Clube não é mera coincidência.
Nascida em Nazaré da Mata, Zona da Mata Norte de Pernambuco, Dona Maria foi abandonada pelos pais e cresceu sob dificuldade. Órfã e pobre, viveu maus tratos, como violência física e racismo, até deixar o município rumo a Carpina.
Por lá, Dona Maria buscou um recomeço, mas viveu novos desapontamentos: explorada enquanto empregada doméstica e passada para trás na tentativa de construir a própria casa. Foi em Carpina, no entanto, que ela ouviu falar pela primeira vez do Sport.
“Sempre gostei de futebol e minhas amigas falaram que no Recife tinha um time de futebol, o Sport. Fiquei empolgada porque queria conhecer esse time de qualquer jeito”, disse em entrevista ao Diario de Pernambuco. Tanto é que esse foi um dos motivos pelo qual ela escolheu a capital pernambucana para novo recomeço.
Já no Recife ficou mais fácil para a torcedora conhecer o Sport, algo que ocorreu na década de 1950. E foi amor à primeira vista. “Quando vi a camisa vermelha e preta meus olhos brilharam. Ainda tentaram mudar minha opinião dizendo que o Leão era um animal mau, mas eu não quis nem saber: naquele momento eu era Sport”, afirmou em entrevista ao Jornal do Commercio.
O Leão, inclusive, serviu de inspiração para Dona Maria, que o via com ótica diferente à que disseram-lhe ao tentar dissuadi-la de torcer pelo Sport: era sinônimo de garra e bravura – assim como ela. Características que a torcedora absorveu e utilizou como estímulo para sempre seguir. E conseguiu.
Na capital pernambucana, ela enfim foi tratada com acolhimento e dignidade. Ao mesmo passo, pôde tornar-se figura frequente na Ilha do Retiro, vestida de vermelho e preto da cabeça aos pés, acompanhada de uma característica sombrinha das mesmas cores – inicialmente para proteger do sol, em seguida para abrilhantar ainda mais o seu frevo.
“Eu fiquei impressionada com o campo cheio, todo mundo de vermelho e preto gritando. Eu pensei: aqui é meu lugar, quero voltar pra casa mais não”, relembrou ao Jornal do Commercio.
Assim, Dona Maria tornou-se um símbolo e caminhou a passos largos para se tornar uma das mais ilustres, irreverentes e fervorosas torcedoras do Sport, dona de uma autenticidade, identificação e paixão únicas. Virou uma unanimidade e adorada por todos. Em 2019, inclusive, tornou-se sócia benemérita, principal condecoração do Clube.
Em entrevista recente ao Globo Esporte, ela disse que só deixaria o Sport quando viesse a falecer. Mas certamente nem assim essa separação ocorrerá: o legado de Dona Maria permanecerá para sempre no Clube, como um exemplo de garra e amor, que eternamente servirá de exemplo e inspiração às gerações que fazem a nossa história.