Artigo: ”Silvino mais cedo, Má Fama mais tarde”

Artigo: ”Silvino mais cedo, Má Fama mais tarde”

22 de fevereiro de 2019 Off Por blogem

Há mais de quinze anos, aqueles que curtem a noite caruaruense elegeram um local como símbolo da boemia e da alegria. Poesia, música, gastronomia, teatro e dança. Muitas expressões culturais já marcaram as noites da Má Fama. Quinteto Violado, Junio Barreto, Almério, Isabela Morais, Gabi da Pele Preta, Dama do Rei, Marcos Mercury, Fim de Feira, Thera Blue. Essa é uma pequena amostra dos/as vários/as artistas que derramaram sua arte nesta que deveria ser a rua símbolo da convivência e tolerância.

A coisa ficou tão séria e organizada que a sociedade civil criou o Comitê da Má Fama, cuja a finalidade era dialogar e construir, em parceria com o poder público, soluções para os problemas da rua. Moradores/as, músicos, frequentadores/as, donos/as de bares e restaurantes participavam ativamente do Comitê, que tinha tudo para ser um exemplo de política de participação. Mas a inoperância do poder público, associada à falta de efetividade nas ações, levou ao esvaziamento do Comitê. Infelizmente esse é um dos maiores problemas das políticas de participação social.

Várias reuniões aconteceram e os problemas relatados eram, na sua grande maioria, os mesmos. O som dos carros que incomodam os moradores e a falta de policiamento diante de uma rua que apresenta uma grande demanda, são alguns exemplos. As ações da Prefeitura e do policiamento sempre tiveram um caráter pontual, nunca efetivo. O resultado é que, mais uma vez, a rua é tomada por atos de violência que levaram à morte de mais um jovem. Até quando?

No início da atual gestão, foram apresentadas várias propostas de requalificação da rua. Reuniões, projetos e promessas, mas até agora muito pouco foi encaminhado. Lembrando que rua Silvino Macedo, à noite, também é um espaço que emprega e gera renda, além de ser o local que concentra a maior quantidade de palcos para que os músicos da cidade possam se apresentar. Diante da falta de resposta do poder público, tivemos o fechamento de vários estabelecimentos que eram referências na rua, como o Barcelona Taps e a loja Plural.

O Festival “Flor&ser” foi um ponto alto da rua. Construído de forma colaborativa, a partir de parcerias entre o poder público e sociedade. Acabou caindo no esquecimento devido a falta de interesse da gestão em dar continuidade. Um baixo investimento que trazia para rua uma outra perspectiva, além de criar mais um espaço de convivência e lazer na cidade.

Essa é uma rua que deveria ter uma decoração específica que pudesse fazer alusão a personalidades da nossa cultura, por exemplo. Local que deveria ter ações governamentais constantes de conscientização e combate a todo e qualquer tipo de violência. Essa é uma demanda real do local e não é novidade.

Em meio a essa discussão, é preciso enfrentar o conservadorismo das instituições que não conseguem entender a ironia do apelido “Má Fama”. Muitas vezes, colocam isso como um dos empecilhos para integrar as atividades econômicas e culturais da rua à cidade. Reflexo dos tempos difíceis que vivemos no contexto nacional.

A “Silvino mais cedo, Má Fama mais tarde”, precisa de atenção e cuidado. A arte, a cultura e o entretenimento devem prevalecer frente à violência. É preciso reorganizar os atores e atrizes que fazem a rua, lutar por mais segurança e valorização do espaço. Eu curto a Má Fama.

Daniel Finizola
Educador / Vereador