Enterro do repentista Louro Branco ocorre nesta sexta-feira (19)

19 de janeiro de 2018 0 Por blogem
O enterro do poeta repentista Louro Branco ocorre nesta sexta-feira (19), às 16h, no Cemitério de Santa Cruz do Capibaribe. Ele
faleceu na manhã dessa quinta-feira (18), devido a problemas cardíacos, aos 74 anos
de idade. O corpo está sendo velado no Teatro Municipal de Santa Cruz do
Capibaribe.
Louro Branco era o nome artístico de Francisco Maia
de Queiroz. Nascido no dia 02 de setembro de 1943 na Vila Feiticeiro, município
de Jaguaribe-CE, começou a cantar aos 12 anos de idade. O epíteto “Louro
Branco” surgiu a partir de uma brincadeira feita pelo parceiro Chico Vieira, já
falecido.
O espólio de Louro conta com mais de 600 obras
poéticas escritas, entre canções e poemas, e mais de 15 discos gravados. Ele
escreveu obras que se tornaram conhecidas até mesmo fora do contexto da
cantoria de viola, a exemplo de canções como ‘Longe de Ti’, ‘O Último Adeus do
Vaqueiro’ e ‘Falta de Humanidade’. Poemas da estirpe de ‘Bibia’, ‘Justiça de
Salomão’, ‘Loucura’ e ‘Pernoite num Cabaré’ também foram da sua lavra.
Tornou-se evangélico em 1994, integrando a Igreja
Evangélica Assembleia de Deus Ministério Madureira. Mesmo sob a nova fé,
continuou cantando e abrilhantando festivais e cantorias de pés-de-parede, ao
lado de cantadores como Ivanildo Vilanova, Jorge Macedo, Miro Pereira e Valdir
Teles, entre outros. Contudo, também produziu obras voltadas à religião, como o
CD ‘Jesus Glorificado’, gravado em parceria com o cantador Chico Alves no
estúdio de Caju e Castanha, em São Paulo, sob a produção de Téo Azevedo.
Emocionado, o poeta Rogério Meneses destaca que um
grupo de repentistas fará uma homenagem quando do sepultamento de Louro. “Já
conversei com a família. Vamos fazer homenagens a caráter, como certamente ele
gostaria de ter. Os cantadores que puderem vão se fazer presentes no velório e
participarão, inclusive cantando versos de improviso em despedida ao colega”,
declarou.
Muitos artistas e admiradores do repentista
lamentaram a perda. O jornalista paraibano Astier Basílio, que atualmente está
morando em Moscou, publicou um texto sobre o cearense. “Com Louro se perde uma
forma de cantar que está conectada com os gigantes, com os patriarcas da
cantoria. O gracejo, a galhofa, a poesia como deleite e festa”, afirmou, em
parte do depoimento. “Sua atividade na cantoria foi tão intensa e bonita,
chegando a ser confundida com sua pessoa, suas qualidades e generosidade, de
acordo com sua origem, exemplo de simplicidade e cidadania”, postou em suas
mídias sociais o repentista Antônio Lisboa, do Recife.
Abaixo,
elencaremos algumas estrofes memoráveis do repentista Louro Branco, tanto
improvisadas quanto de trabalhos escritos:
No dia
que eu morrer,
Deixo a mulher sem conforto;
Roupas em malas guardadas
O chapéu em torno torto,
E a viola com saudades
Dos dedos do dono morto.
x-x-x-x-x-x
Tem boca
que beija boca
Sem ligar pra boca quente;
Quando boca ganha boca
Gera boca mais na frente
Tem boca que troca boca
Noutra boca diferente.
x-x-x-x-x-x-
Arranjei
um espelho e me olhei,
Perguntei: “O que é que estás fazendo?”
Respondi a mim mesmo: “Estou colhendo
Frutos pecos dos crimes que plantei”.
Procurei acertar, não acertei,
Baldeado na dor que não aplaco.
Nos reveses do mundo todo opaco,
Tive pena do filho que chorou,
Tive raiva da mãe que me aceitou,
Tive nojo de mim, porque fui fraco.
x-x-x-x-x-x-x
Quando eu
doente sofria
Minha mãe também gemia
Fazia logo e trazia
Um chá na sombra da fé
Eu tomava da meizinha
Melhorava uma coisinha
Que a mãe da gente adivinha
A dor do filho onde é.