Revista Veja destaca desprestígio de Lula e Caruaru entre as 12 piores cidades

16 de julho de 2016 0 Por blogem
Às 7h50 da última quarta-feira, um
segurança do ex-presidente Lula chegou ao Aeroporto Oscar Laranjeira, em
Caruaru, no agreste de Pernambuco. Diligente, comunicou que um
Gulfstream G200, avião executivo de luxo e alta performance, estava a
caminho da cidade. Minutos depois, dois representantes do Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e o vice-prefeito Jorge Gomes (PSB)
estacionaram seus carros no local. Estavam apreensivos, porque não
havia militantes para oferecer uma recepção calorosa a Lula. “Eles vão
chegar. Pode ficar tranquilo”, disse um dos líderes do MST ao segurança,
tentando amenizar a tensão. Uma hora mais tarde, só oito pessoas
aguardavam o ex-presidente. “Vamos partir para o plano B. Acho melhor
receber o Lula no hotel. Manda o pessoal para lá”, ordenou o
guarda-costas. Em seguida, ele trancou a porta de entrada do saguão do
aeroporto, que é público, para evitar que alguém fotografasse o deserto
que aguardava Lula, aquele que já foi um dos políticos mais populares do
mundo. “O cara”, como disse o presidente americano Barack Obama, numa
ocasião em que se encontraram.
Lula
desembarcou às 9h13 acompanhado do senador Humberto Costa (PT-PE).
Driblou as poucas pessoas curiosas que o aguardavam e deixou o aeroporto
pelos fundos. “Pensei que ele fosse ao menos pegar na minha mão e me
cumprimentar”, reclamou Augusto Feitosa, funcionário do aeroporto. Os
tempos são outros. A popularidade e o prestígio de Lula também. Caruaru é
testemunha dessa transformação. Em 27 de agosto de 2010, o então
presidente desembarcou no mesmo Oscar Laranjeira ao som de uma orquestra
formada por estudantes de uma escola pública. O saguão estava lotado.
Sorridente, Lula abraçou eleitores e posou para fotos ao lado de
autoridades como Fernando Haddad, então ministro da Educação, hoje
prefeito de São Paulo, e a então primeira-­dama do Estado de Pernambuco,
Renata Campos. Em seu último ano de mandato, Lula beneficiava-se do
crescimento econômico, que atingiu 7,5% em 2010. Nem o céu parecia lhe
servir de limite. “Se a gente continuar mais dez anos do jeito que está,
daqui a pouco chega a Caruaru e pensa que está em Paris, em Madri, de
tão chique.”
Caruaru
continua Caruaru. Figura entre as doze piores cidades para viver no
Brasil. E Lula deixou de ser Lula. Lidera no quesito rejeição entre os
nomes cotados para disputar a Presidência em 2018. Na quarta-feira
passada, Lula discursou em Caruaru num auditório com capacidade para
setenta pessoas. A plateia era formada por militantes do MST e da CUT,
que preferiram tomar o café da manhã do hotel a esperar o petista no
aeroporto. A programação previa uma coletiva de imprensa. Não ocorreu.
Só Lula e áulicos falaram. Mas o ex-presidente mantém um fotógrafo e uma
equipe de documentaristas, sempre a postos para captar as melhores
cenas. Enquanto estava no hotel, um militante rompeu o cerco de
seguranças e tirou uma foto com Lula, mas a equipe do ex-presidente o
obrigou a apagá-la. A imagem mostrava uma garrafa de uísque ao fundo.
Não pegaria bem nas redes sociais, foi a justificativa apresentada.
Depois
do evento, Lula saiu pela garagem, num carro com os vidros fechados, e
percorreu um trajeto de apenas 400 metros até o trio elétrico que o
esperava para um novo discurso. “Ele parece estar meio distante do povo,
com um olhar desconfiado”, observou a funcionária pública Conceissão
Pessoa. Em cima do trio elétrico Pantera Fashion, Lula discursou para
2.000 pessoas. Cinco ônibus, com capacidade para cinquenta passageiros,
foram fretados por 1.000 reais cada um, pagos em dinheiro vivo, para
postar a claque diante da estrela petista. A programação da semana
passada, por exemplo, previa uma passagem pela cidade do Crato, no
Ceará, onde ele receberia o título de doutor honoris causa
da Universidade Regional do Cariri. A segurança fora informada de que
estava sendo organizado um protesto de alunos contra a concessão da
honraria. A visita foi cancelada.
Em
Caruaru, Lula foi ainda a um assentamento agrário do MST. Uma banda de
pífanos, também contratada por cerca de 1.000 reais, animou a festa. À
mesa, famílias convidadas puderam se servir de macaxeira, jerimum,
cuscuz, carne guisada e suco de acerola. Lula bebia cachaça e água.
Estendia o braço direito para o alto, com o punho cerrado, e discursava
contra o “golpe” que derrubou Dilma. No fim da tarde, às 17 horas, o
ex-presidente partiu para o Recife no avião de prefixo PR-WTR, o mesmo
que as empreiteiras Odebrecht e OAS usavam para transportá-lo ao
exterior. À noite, na capital pernambucana, num evento em praça pública,
Lula criticou o presidente interino Michel Temer e o juiz Sergio Moro,
que em breve julgará um pedido de prisão contra ele. Falou à plateia e
também à equipe que produz um documentário sobre o “golpe”. Com a chuva,
os militantes começaram a se dispersar, e Lula teve de encerrar o
espetáculo.