Conselho de Ética aprova pedido de cassação do mandato de Cunha

15 de junho de 2016 0 Por blogem
Após cerca de oito meses de tramitação, o processo mais longo do
Conselho de Ética chegou ao fim nesta terça-feira (14.06) com a aprovação do
pedido de cassação do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Em votação
nominal, a maioria dos deputados concluiu que Cunha mentiu à extinta CPI da
Petrobras sobre possuir contas no exterior. O resultado foi decidido pela
deputada Tia Eron (PRB-BA), voto considerado incerto até momentos antes da
votação. Com o apoio de Eron ao relatório de Marcos Rogério (DEM-RO), Cunha
perdeu por 11 votos a nove. “Não posso absolver o representado. Quero
votar sim com o relatório”, disse Tia Eron.
A votação sofreu uma reviravolta com o voto de Wladimir Costa
(SD-PA), aliado de Cunha, que votou a favor da cassação do peemedebista.
Momentos antes do anúncio da deputada Tia Eron, ele ainda fazia a defesa do
presidente afastado da Câmara, afirmando que ele foi o grande responsável pelo
processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff e chamando os petistas de
“vagabundos”. Antes de Costa mudar de voto, a expectativa era de que
Eron poderia empatar o placar em 10 a 10. O voto de minerva ficaria favor da
perda de mandato de Cunha viria do presidente do Conselho, José Carlos Araújo
(PR-BA), o que acabou não sendo necessário.
Durante sua exposição final, Rogério rejeitou a possibilidade de
aditamento ao processo e o voto em separado que pedia apenas uma suspensão do
mandato por 90 dias, mantendo assim a íntegra de seu parecer. Reafirmando que
as provas contra Cunha são robustas e fartas, ele disse que o peemedebista é o
titular de contas na Suíça, as quais tentou camuflar. “As provas estão aí,
basta olhar sobre essa mesa o conjunto dos autos”, declarou o relator, que
chamou a engenharia financeira montada por Cunha de “verdadeira
laranjada”. “Estamos diante de uma fraude, de uma simulação, de
laranjas de luxo criados para esconder a existência de contas”, emendou o
deputado.
Rogério defendeu que o processo disciplinar é técnico e ético.
“Creio que a única sanção aplicável é a perda do mandato”, insistiu.
O relator falou que o escândalo é o maior que o colegiado já julgou, uma
“trama para mascarar uma sucessão de crimes”. Segundo o relator,
Cunha mentiu para atacar a Procuradoria Geral da República e usou a CPI da
Petrobras no ano passado para barrar as investigações. “Ele mentiu e
omitiu informações relevantes à Câmara”, reiterou.
Último a falar na sessão, o advogado Marcelo Nobre disse que nas
90 páginas do parecer não havia provas de contas de Cunha no exterior.
“Cadê o número da conta do meu cliente? Não me venha com pirotecnia. Eu não
preciso de 90 páginas, eu preciso de uma linha”, discursou. O defensor de
Cunha repetiu que delação não faz prova contra o deputado e que ele não era
obrigado a declarar o truste. “O que tem acontecido aqui é linchamento.
Condenar sem provas é linchamento”, afirmou.
Com a decisão do colegiado, a defesa de Cunha possui cinco dias
úteis para recorrer da decisão à Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania
(CCJ). A comissão não analisa o mérito do que foi aprovado pelo conselho,
apenas discute vícios regimentais apontados pelo representado. Assim que o
recurso chegar à CCJ, ele tranca a pauta e um relator será nomeado para
apresentar um parecer sobre seus questionamentos. Se a comissão entender que
houve algum erro procedimental, pode solicitar que o Conselho o corrija.
Depois, caso o recurso de Cunha não for aceito, o processo segue para o
plenário da Casa.

Betinho Gomes (PSDB-PE) disse que o processo se tornou
“angustiante”. “Qualquer um em sã consciência, se fosse depender
naturalmente do senso da população brasileira, que observa a política hoje,
certamente a solução não seria outra que não a cassação de Eduardo Cunha. Me
parece que esse é o desejo da sociedade, não por querer vingança, mas porque
Cunha é um político corrupto e será julgado e provavelmente condenado e preso.
Diante dos fatos, me parece que não poderia haver outra solução que não a
aprovação desse relatório, ao não cumprirmos nosso papel, deixa de ter sentido
esse conselho, essa casa está em xeque, está merecedora de desconfiança.”