
Coçar os olhos pode causar perda parcial ou até total da visão
26 de junho de 2023Alergias, mudança de tempo, até mesmo tiques nervosos. As razões para coçar os olhos podem ser muitas, mas o hábito é muito mais perigoso do que parece, pois pode gerar perda severa na visão. O ato é uma das causas do ceratocone, doença ocular que é a maior causa de transplantes de córnea no mundo.
“O ato de coçar os olhos cronicamente está relacionado ao surgimento e progressão do ceratocone. A fricção provoca deformidade em áreas de fragilidade na córnea, surgindo assim um astigmatismo irregular e o formato corneano semelhante a um ‘cone’”, explica a oftalmologista Manuela Tenório, do Hospital de Olhos Santa Luzia, integrante da rede Vision One.
A fila de espera por um transplante de córnea duplicou nos últimos cinco anos, segundo dados do Conselho Brasileiro de Oftalmologia. Ao todo, são quase 25 mil pacientes na fila para o procedimento. Estima-se também que aproximadamente 150 mil brasileiros sejam diagnosticados com ceratocone por ano.
O sintoma mais característico é a perda progressiva da visão, que se torna borrada e distorcida (tanto para longe quanto para perto). Outros sinais são sensibilidade à luz, ofuscamento à noite, borramento visual mesmo com os óculos. “Normalmente, o paciente se queixa de piora da acuidade visual, progressão do grau e desconforto à luz”, afirma a oftalmologista Manuela Tenório.
O ceratocone, em geral, não causa cegueira irreversível, mas favorece o surgimento de alta miopia, astigmatismo irregular e piora importante da acuidade visual, por exemplo, diminuindo a qualidade de visão do paciente.
A doença é multifatorial. Alguns fatores de risco incluem histórico de ceratocone na família, alergia ocular, além de algumas síndromes, como a Síndrome de Down. “Pacientes com histórico de alergia ocular devem ser sempre investigados para essa doença e orientados quanto aos riscos relacionados ao não controle da alergia”, alerta a especialista em córnea Manuela Tenório.
O tratamento depende da gravidade de cada caso. “Nas fases iniciais, o uso de óculos pode ser suficiente para recuperar a acuidade visual. A depender do grau de deformidade, também lançamos mão de lentes de contato especiais, anel intraestromal e transplante de córnea. Além disso, podemos indicar crosslinking, um tratamento com objetivo de deixar a córnea mais firme e impedir a progressão da doença”, orienta a oftalmologista Manuela Tenório.