
Estudante de Salgueiro busca responsabilidade criminais do acidente que afundou a sua face
13 de julho de 2021Após oito meses esperando em vão pela instauração do inquérito policial para descobrir a causa do acidente de ônibus que deixou sequelas no seu rosto, Kedydja Cibelly Borges dos Santos, 20 anos, vai receber o apoio do criminalista Ricardo Breier, presidente da OAB-RS, para cobrar apuração das causas que levaram o veículo a capotar no fim da viagem Piauí-Salgueiro, em novembro de 2020. 0 criminalista se associou ao escritório do advogado Eduardo Barbosa, que representa a vítima, para encaminhar uma petição à Delegacia pedindo providências para instaurar um inquérito policial com o objetivo de apurar as causas do acidente e responsabilizar criminalmente os culpados. Se a solicitação não for atendida, Ricardo Breier informou que vai notificar formalmente a Corregedoria de Polícia de Pernambuco. No acidente de ônibus, a estudante sofreu afundamento de face, ficou sem parte da pele da testa e de uma das sobrancelhas e perdeu a cartilagem do nariz, dificultando a sua respiração e o campo de visão do olho direito.
“Estranhamos que não tenha havido ocorrência policial, nem tampouco previsão de oitiva (depoimento) da vítima”, disse o criminalista. Ele lembrou que a vítima tem o direito de ser assistida judicialmente no processo investigatório e que aguarda que sejam adotadas as providências cabíveis para que se instaure o inquérito policial. Isso é urgente para que as provas não se fragilizem e que o caso corra sérios riscos de prescrição. O advogado Eduardo Barbosa também encaminhou uma representação ao juiz de Direito da 1ª. Vara Cível de Salgueiro repudiando uma proposta encaminhada formalmente por um representante da seguradora Essor Seguros, que ofereceu R$ 10 mil a título indenizatório para a vítima através do advogado. “É uma proposta bizarra e que demonstra total descaso para com a vítima”, afirma o advogado Eduardo Barbosa.
No mês passado, a estudante voltou para Salgueiro depois de se submeter a sete horas de uma cirurgia de rinoplastia, correção de cicatriz e enxerto de gordura na face, numa clínica particular em São Paulo. Kedydja sonha agora em apagar as cicatrizes do grave acidente de ônibus que foi vítima, em 16 de novembro de 2020, no transcurso entre Piauí e Salgueiro (PE), quando sofreu afundamento de face, ficou sem parte da pele da testa e de uma das sobrancelhas e perdeu a cartilagem do nariz, dificultando a sua respiração e o campo de visão do olho direito. “Consegui me ver de novo no espelho depois da retirada dos pontos”, conta ela, mostrando o caco de vidro que foi retirado durante a rinoplastia.
A cirurgia ocorreu exatamente sete meses depois da madrugada do acidente que mudou a rotina da estudante, que voltava de uma viagem de Picos, cidade do Piauí onde nasceu, para o município onde mora, Salgueiro, no Sertão de Pernambuco. A estudante, que cursa Engenharia de Produção na Universidade do Vale do São Francisco (Univasf), decidiu deixar os pais em Picos para onde havia viajado para votar e retornar para Salgueiro dois dias antes do combinado com a família. “Tinha muitos casos de Covid lá e fiquei com muito medo de morrer, porque perdi minha vó para esse vírus”, conta ela. A menos de duas horas de chegar em casa, o ônibus virou na estrada do município pernambucano de Orobó e todos os passageiros sofreram ferimentos, mas a situação de Kedydja foi a mais grave. Ela revela que o cinto de segurança não a conteve no impacto e foi arredada, caindo com o rosto no chão. “Fui jogada embaixo do ônibus e fui arrastada. Gritava de dor. Um despero”, recorda ela, informando que outras pessoas conseguiram suspender o ônibus para ela sair, quando foi socorrida por um advogado até o hospital de Ouricuri.
FERIDAS E DORES EMOCIONAIS
A jornada de Kedydja Cibelly para chegar a São Paulo para ser acompanhada por especialistas não foi fácil. As feridas se estenderam às dores emocionais, gerando vergonha de sair de casa, baixa autoestima e depressão. De novembro a março, ela ouviu avaliação de um médico de Petrolina, município pernambucano onde moram seus pais e se submeteu a primeira cirurgia um dia após o acidente, e até de familiares de que ela deveria se conformar com as cicatrizes. “Entrei em depressão depois de escutar que não tinha solução para o meu caso”, conta ela, que está em acompanhamento psiquiátrico desde abril. Católica e devota de Padre Cícero, considerado o santo popular dos nordestinos, Kedydja fez muitas preces para o padroeiro de Juazeiro do Norte, município cearense onde reside seu noivo. “Orei muito e pedi para ele me iluminar”, lembra.
A sua fé se manteve apesar do quadro depressivo. Em março, como não conseguia um acordo com a empresa responsável pelo ônibus onde estava que capotou durante o acidente, mudou o assessoramento jurídico e ganhou em abril o direito de ter um acompanhamento psiquiátrico. Em maio, conquistou na Justiça o direito de fazer as cirurgias reparatórias de nariz, sobrancelha e face. A ação foi impetrada pelo advogado especialista em indenização, Eduardo Lemos Barbosa, conseguindo tutela de urgência (2º Grau) favorável à jovem, em 21 de maio, garantindo a ela o direito a fazer todos os tratamentos e cirurgias. Todas as despesas serão pagas pela empresa (Auto Viação Progresso S.A.), por decisão do desembargador Antônio Fernando Araújo Martins. O desembargador Relator Fernando Martins relatou o caso. Até o ingresso da ação, a empresa não havia prestado apoio algum à estudante
A ORIGEM
A estudante é filha de uma pensionista e de um motorista. Ela conta que seu pai está desempregado há três anos e que não tinham condições de bancar o tratamento. Em 2020, após a morte da sua avó em Picos, em julho do ano passado, seus pais migraram para Petrolina, em busca de oportunidades. Não conseguiram e acabaram voltando temporariamente para Picos no período das eleições para trabalhar para um amigo que era candidato. Eles pediram para a filha viajar de Salgueiro, onde ela faz faculdade, para o município piauiense para votar. Pelas condições financeiras em que os pais se encontram, não havia, segundo ela, condições de bancar o tratamento. “Já foi muito difícil passar por esta situação, ainda mais sem qualquer auxílio”, lamentou. O advogado Eduardo Barbosa foi incisivo ao afirmar que é previsão legal da obrigação da empresa em indenizar e prestar auxílio às vítimas de acidente.

