Livraria Estudantil encerra atividades em Caruaru
28 de dezembro de 2018O historiador Walmiré Dimeron, escreveu:
TARDE NOSTÁLGICA. A nostalgia é mal ou cura? quando machuca, é fel, mas, na medida certa, pode nos revigorar já que é fortificante e bálsamo da alma. Assim que soube do encerramento das atividades da Estudantil, decidi que teria de lhe fazer uma última visita. Um cenário triste e vazio me recebeu: prateleiras vazias, os poucos funcionários com ar de desalento e Ivan Galvão mergulhado em lamentos. Quantas vezes ali estive recebendo o cordial “bom dia, meu jovem”, do livreiro Dr. Galvão, um dos fundadores da tradicional casa comercial que sobreviveu durante 76 anos no coração de Caruaru. Ir à Estudantil era um festa: comprar papel pautado, lápis grafite com borracha espetada no topo, cadernos Brasil com o a letra do Hino Nacional no verso, cartilha “Caminho Suave”, papel madeira pra encapar livros e cadernos, e, no Natal, os enfeites e cartões. Ali, comprei vários dos meus primeiros livros de Érico Veríssimo, Machado de Assis e Nelson Barbalho. Quantas figuras por ali passaram, caruaruaruenses ou não, nos encontros dos amantes das letras, nos lançamentos de obras? Jorge Amado, Ênio Silveira, Limeira Tejo, Nelson Barbalho, José Condé… A Estudantil foi fundada em 1942 por Raimundo Ferreira e Dr. Galvão Cavalcanti, como sucessora da Livraria Guerra, num pequeno espaço do antigo Beco do Major Sinval e, em 1950, foi instalada na esquina da Rua Duque de Caxias. Todas as novidades impressas chegavam pela Estudantil, como os cobiçados números das Revistas “O Cruzeiro”, “A Cigarra” e “Manchete”. Um belo dia, criei coragem e me “apresentei” ao velho Dr. Galvão e seus elegantes suspensórios, com quem passei a papear sobre o passado de Caruaru. Difícil será não imaginá-lo à porta, ou no seu velho birô com fotos antigas da cidade sob um vidro ou ainda vigilante, ao lado do caixa, no cumprimento do papel que lhe cabia como uma das referências da classe dos comerciantes de sua geração: sendo cordial e acolhedor com a freguesia. Grato por ter, de alguma forma, presenciado parte dessa bela história. Walmiré Dimeron 27.12.2018.
O professor historiador, José Urbano, escreveu:
Livraria Estudantil, sempre junto de você O encerramento das atividades da Estudantil tem vários aspectos: a digitalização dos livros e jornais; a crise econômica; questões familiares dos proprietários; fragmentação do mercado editorial; desmonte das atividades comerciais pela concorrência da internet entre outros fatores. A certeza de que a missão foi cumprida por 70 anos, bem como o século XXI e suas tecnologias ao alcance de todos desmonta modelos econômicos e tradições sociais seculares. A referida empresa deixa de existir solidamente, e permanece no acervo histórico da capital do agreste, como marca indelével da nossa sociedade, assim como foi a beleza arquitetônica da sua vizinha, a catedral de nossa Senhora das Dores. Assistimos hoje a conclusão da última página do empreendimento cultural denominado Livraria Estudantil. Fez história, ensinou histórias, hoje repousará na história. Eis a dinâmica da vida, de um passado que se fez, um presente que vivemos e um futuro que nos aguarda. Aplausos para Dr. Galvão Cavalcanti, familiares e funcionários, cuidadosos que foram e hoje entregam para a memória de Caruaru precioso acervo de cultura e memória. Prof. José Urbano 28/12/2018