
Do brilho de São Paulo ao encanto de Pernambuco: a história de Marília Carvalho
8 de março de 2024Uma história de coragem, superação e sucesso no empreendedorismo feminino de Pernambuco
A jornada inspiradora da empresária Marília Carvalho, dona da Mari Folheados, começou aos 20 anos, na 25 de Março, em São Paulo, no início da década de 2000. Quando alguns sonhavam com a Odisséia do Espaço, a jovem tinha os pés centrados na terra. E pode-se dizer que ali, num dos maiores centros comerciais a céu aberto da América Latina, ela deu os primeiros passos para se tornar a dona de um empreendimento em Pernambuco que tem mais de cinco mil produtos para venda, todos folheados a ouro ou prata.
Ao vir morar no Nordeste, no estado pernambucano, a paulistana fez um caminho inverso ao dos nordestinos que migram para o Sudeste brasileiro. O empreendimento de sucesso pertencente a Mari comercializa acessórios que levam uma fina camada de ouro ou prata, com qualidade e garantia, e têm preços mais acessíveis. O desafio, agora, é expandir o seu negócio para outras regiões, com foco na internet e um olhar especial para o desejo do cliente.
Marília tem 43 anos atualmente, nasceu no bairro paulistano Butantã, sendo filha caçula de uma família de quatro irmãos – duas mulheres e dois homens. O talento empreendedor já apareceu na infância quando ela começou a fazer cocadas para ajudar a mãe, Maria Izabel da Silva, que vendia cachorro quente. São Paulo ainda é a capital que mais abre oportunidades para brasileiros de todas as regiões. Seu pai era baiano e a mãe, mineira.
BABÁ
A jovem também passou três meses como babá na casa de uma coreana chamada Suzi, antes de entrar no ramo de vendas. O emprego de babá foi indicado pela sua mãe, que era doméstica. Nessa época, Marília já se mostrou múltipla, desdobrável. Como dizia a poetisa Adélia Prado, ao se tornar mãe, uma mulher, como Mari, não abandona todas as mulheres que já foi um dia. Ganha mais mulheres em si mesma.
“A minha mãe foi doméstica a vida inteira. Eu me separei do pai dos meus filhos e fui morar com a minha mãe, com três filhos (Thainá, Letícia e Gustavo). A ex-patroa da minha mãeperguntou se ela conhecia alguém para cuidar do filho de uma amiga. Minha mãe me indicou e passei três meses sendo babá para a filha dessa moça, que é coreana. Ela gostou do meu serviço e me chamou para trabalhar com ela na 25 de Março, na loja dela”.
Marília contou que a então patroa logo a levou para uma loja no Centro de São Paulo, onde ela começou a montar peças de bijuterias, uma mudança de rumos, e, posteriormente, a indicou como vendedora. Foi a partir desta experiência, iniciada entre 18 e 19 anos, que ela começou a trabalhar como vendedora, em outra loja, numa área em que é necessário conhecer o outro e encantar o cliente. Sua motivação, por trás da ousadia e coragem, era dar o melhor aos filhos e crescer profissionalmente. Mari, até então, vivia como mãe solo.
MÃE SOLO
“Eu comecei a trabalhar com peças de montagem. Depois, ela me chamou para ser vendedora. Com uns três meses, o salário era muito pouco e eu com três filhos não conseguia permanecer ali. Foi quando, durante o horário do meu almoço eu saí para procurar uma outra oportunidade e surgiu essa, que foi onde eu realmente aprendi muita coisa”, lembra Mari.
Aos 20 anos, ela passou a atuar como vendedora em outro espaço, também na 25 de Março, uma importadora de bijuterias que revendia produtos do exterior para os clientes. Com seis meses e um alto desempenho em vendas, ela se tornou gerente da loja, que pertencia a uma coreana chamada Bárbara. A ela, Mari tem gratidão.
A empresária trabalhou na loja por oito anos, tornou-se responsável pelas compras no exterior e a loja passou a vender para todo o Brasil. Mari tirou a empresa do vermelho, na época, viajou para a China duas vezes, passando a conhecer os caminhos do País considerado como o maior entre os tigres Asiático. Depois de oito anos, alimentou o sonho de abrir o próprio negócio.
“Ficava atenta em tudo no que o cliente me falava. Quando não havia peças que ele não encontrava lá, eu recorria à dona e dizia que o cliente estava precisando e que nós precisávamos ter o produto na loja”, recorda ela, que era a primeira a chegar na empresa e a última a sair. “Não trabalhava só pelo dinheiro, mas pelo prazer”, acrescenta. A partir de então, Marília chegou a conclusão que queria trabalhar com o público. “Era o meu talento. Os clientes me elogiavam para a dona. Diziam que eu era muito atenciosa. Ganhei muito a confiança deles a ponto de vender por telefone valores enormes. Foi muito bom o tempo que passei lá, fiz muitos amigos. Isso foi fundamental para o meu crescimento”, declarou.

A inspirada trajetória de Marília Carvalho começou na movimentada 25 de Março
NOVO DESAFIO
Já no final dos anos 2000, ela conseguiu alugar, com apoio do esposo, Marcos Carvalho da Silva, um ponto de negócios, também na mesma 25 de Março, uma via pública agitada pelo comércio de rua, variedade de lojas, público diversificado e movimentação intensa. Um amigo deu aquele apoio do tipo “vai, enfrenta”.
Foi quando ela fez mais três viagens para o exterior, a China, dessa vez por conta própria. Veio a dificuldade de principiante, mas tudo correu bem, até que ela resolveu abrir um negócio em Pernambuco, Casa Amarela, no Recife, onde começou a vender bijuterias. Foram três empreendimentos até abrir a Mari Folheados: loja de acessórios, onde vendia bijuterias, cintos, bolsas; de maquiagem e de roupas infantis, em 2018, fechada em 2020 em função da pandemia. “Os clientes pediram para a gente continuar, decidimos aguardar, dependendo de como as coisas vão fluir”, afirmou, deixando no ar alguns planos futuros.
A Mari Folheados acaba de completar dois anos. Nasceu no dia 8 março de 2022, no momento em que Marília viu o ponto em Casa Amarela, na Rua Padre Lemos, na mesma via onde ela tem uma loja de maquiagem, e vislumbrou uma grande oportunidade. “O dono do imóvel alertou que o local era muito pequeno e que o preço era “salgado”. Eu disse que era o que precisava e perguntei o valor. Ele responde e fui taxativa: ‘então é meu’”, lembra.
DIAS DIFÍCEIS
Quando Mari pressentiu a chegada da manhã, veio a noite. No quarto período da faculdade, ela precisou largar os estudos para cuidar da mãe, que teve câncer. Mas a empresária alerta, abrindo um coração quente e ventilado. “O que realmente foi doloroso foi a inexperiência. A gente paga um preço altíssimo por não ter vivência”, contou.
A empresária juntou as pedras do caminho e fez uma escada. O diferencial de seu empreendimento é o atendimento ao cliente, como se braços e vozes diferentes surgissem para tocar em cada peça delicada e apresentar ao consumidor. Ela vai de dois em dois meses a São Paulo fazer compras. Teve mais um filho chamado Vinícius, o caçula.
“É realmente um prazer atender ao nosso cliente na loja, entender que ele entrou porque ele está precisando de algo e eu quero atender a essa necessidade da melhor forma. Gosto de acolher, porque sempre acreditei que é melhor dar do que receber. Creio muito que quanto mais você dá, mais você recebe”, afirmou a empresária, cuja face reflete a de outras mulheres de sucesso. Pode ser tempestade, vento, brisa.
OBRA PRIMA
Além de ter maleabilidade para atender ao cliente, Mari tem aquela resistência única que adquiriu ao longo da vida, curiosamente, como os dois metais que trabalha, metais preciosos que cobrem as peças comercializadas na sua loja.
A prata é maleável e versátil, uma obra prima da natureza, que exala beleza atemporal e elegância, muitas vezes comparada à lua e à feminilidade. O ouro representa a eternidade e a resistência – uma expressão da simplicidade duradoura. O trabalho de Mari Folheados reflete um sonho, que ainda tem muitas asas para voar.

Na foto, momentos da jornada da fundadora da Mari Folheados, que transformou sonhos em realidade.